A seleção feminina foi eliminada ainda na fase de grupos da Copa do Mundo, resultado que colocou o trabalho da técnica Pia Sundhage sob fortes críticas. A sueca foi contratada em 2019 para elevar o patamar dos resultados da equipe, mas quatro anos depois, alcançou o pior resultado em Mundiais do Brasil desde 1995.
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Milene Domingues não poupou a treinadora em entrevista exclusiva ao “Apostagolos.com”, depois do empate em 0 a 0 com a Jamaica, nesta quarta-feira. A comentarista é a primeira convidada do quadro “Elas no Apostagolos”, que abre espaço para grandes histórias do esporte feminino.
A decepção brasileira
Responsabilidade de Pia Sundhage
“Não quero ser crítica, tentar achar um culpado pela eliminação. Foram vários fatores que pesaram. Mas o comando da Pia Sundhage, desde que começou a Copa do Mundo, pecou. Jogamos três jogos com três times titulares diferentes. Quem está lá, não tem coerência. E os jogadores perdem a confiança no comando. A Lauren foi titular no primeiro jogo, no segundo, e no terceiro saiu para a entrada a Kathellen. Por que a Marta, que entrou 10 minutos no primeiro jogo, 15 no segundo, foi titular e capitã no terceiro?”.
Críticas sobre a seleção
“Elas devem vir. Só assim você consegue resolver os problemas. As várias visões ajudam a corrigir a rota. O que não podemos questionar é a infraestrutura. Ter uma infraestrutura não é sinônimo de vencer. Não é por causa da infraestrutura que o futebol feminino está passando a ter no Brasil que as jogadoras têm a obrigação da vitória. Ele não pode ser moeda de troca.
A infraestrutura é o mínimo que as jogadoras merecem para trabalhar. Mas a cobrança tática, técnica, ela deve existir. Se você perguntar qual é a forma que o Brasil gosta de jogar, não tem uma resposta clara. Cada jogo foi uma coisa na Copa do Mundo”.
Brasil sem padrão de jogo
“É preciso ter uma forma de jogar e não sair daquilo que é pensando, independentemente das peças que se tenha. É ter um estilo de jogo e não ficar mudando. Pia Sundhage precisa escolher uma forma de o Brasil e sustentá-la. Se um dia jogo de uma maneira, no outro jogo de outra, isso é ruim. Ainda mais na seleção brasileira, normalmente sem tempo para treinar.
Às vezes tenho a sensação de que nem a Pia sabe o que ela quer realmente, para o time. Isso contra a França ficou bem nítido. Ela dizia que tinha plano A, B e C e depois não funcionou nenhum desses planos e o Brasil perdeu. Então é preciso ficar claro como o Brasil joga, o sistema de jogo, o que Pia Sundhage quer das atletas, e sustentar isso. independentemente do que for.
A Marta foi titular e capitã porque havia na cabeça de Pia a ideia de que poderia ser o último jogo da Marta como titular em Copa do Mundo. E isso não é bom. Ter colocado a Marta titular e capitã foi pensando, “vai que o Brasil não passe?” Se a Marta fosse tão importante, ela não teria jogado tão pouco na primeira e na segunda partida. Já existia esse medo na Pia Sundhage, de a Marta não ser titular em um jogo nessa Copa? O sentimento de revolta é por isso. Além disso, a falta de coerência no time no primeiro, segundo, terceiro jogos”.
Análise do jogo
“Faltou o gol para a seleção. O Brasil, se fizesse o 1 a 0, faria o segundo, o terceiro gol. Como uma ex-atleta, eu sei que isso aconteceria. Várias vezes vimos a Jamaica com cinco, com seis jogadoras na linha atrás. Elas começaram o jogo com quatro, e depois foram aumentando, ao verem que o Brasil estava chegando. E a Jamaica ainda teve chance de marcar. Ela jogou no contra-ataque e tem uma atacante muito rápida. Cada um joga com o que tem de melhor. As jamaicanas jogaram pelo empate e assim fizeram.
Faltou ao Brasil ser mais inteligente. Passaram os minutos, a ansiedade cresceu, e as tomadas de decisão passaram a ser equivocadas. Vimos jogadoras indo juntas na mesma bola. A inteligência tem de prevalecer. No esporte, nós, brasileiros, temos essa vontade, esse ímpeto, acabamos individualizando as responsabilidades. Passou muito por isso. A calmaria que os europeus têm, os americanos têm, nessa hora, nós não temos. A nossa passionalidade faz isso, pecamos muitas vezes nas tomadas de decisão”.
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